quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma boa mistura

Em uma noite de verão no litoral do Camboja:
Teve companhia escandinava,
música brasileira
e comida indiana.

Sim, a Terra é uma só!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Feliz Natal, direto do Camboja

De férias, como a maioria de vocês.

Depois de pegar um trem em Bangkok para Poipet, cruzei a fronteira. No Camboja estive em Siem Ream, Battambang e Pnhom Penh. Já já rumo para o litoral.
Por aqui, muito sossego. Menos o natal, este foi animado. A 'comemoração' começou no final da tarde e terminou quase de manhã no "Heart of Darkness". Super apropriado para o clima natalino, como se pode perceber pelo nome. Mas estou no Camboja. Mais um país sofrido e marcado por guerras, minas, miséria e beleza, muita beleza. Com seu povo sorridente e insistente (bota insistente nisso)!

Como era de se esperar, teve bombas na Nigéria, só sei pela BBC. Espero que fique tudo bem...Cada país carrega consigo uma carga de problemas. Umas histórias mais erradas e bizarras do que outras, mas cada um com sua porção - de culpa, de desgraças, de felicidades, de orgulho.

Feliz Natal para todos, muita esperança e fé para quem tem a sua. Ah,e mão na massa, porque fé sozinha não dá jeito não.
HO HO HO

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

On the Road Again


Isto aqui é bomba


Já estou de volta aqui em Bangkok, vou ficar de férias e fazer o que mais gosto no mundo: mochilar. Provavelmente pelo Cambodia e Vietnã, mas sem muitos planos desta vez. O blog ainda está na Nigéria.

Em um sábado de noite fomos tomar uma cervejinha num bar em frente da faculdade. Tínhamos visitas – um pessoal da organização que trabalha em outras regiões, era dia de celebrar e relaxar. A ideia era ir até uma rua com vários bares que fica meio longe, mas éramos muitos, não tinha carro pra levar a gente e por isso resolvemos ir até um outro lugar que fica dois quarteirões de casa.
Tudo ia bem, muito papo e risadas. De repente os telefones começam a tocar e eu percebi que todos estavam meio apreensivos. Perguntei o que estava acontecendo: ‘há rumores de que teve uma bomba na região que estávamos pensando em ir, é melhor a gente voltar pra casa’. Ok, vamos embora...mas aí eu escuto um ‘BUM’.
Sim, foi uma bomba que explodiu alguns quilômetros de onde estávamos. E teve mais outra. Os militares não queriam deixar a gente ir embora, mas quando perceberam que estávamos pertinho de casa, acharam um carro e nos levaram em segurança.
Chegamos em casa e não se fala mais nisso, tá tudo certo, ninguém sabia o que estava acontecendo até o dia amanhecer mais uma vez. Foram três bombas, todas em lugares de grande concentração de pessoas, sendo uma exatamente no local onde pensamos em ir primeiro. Parece que um morto e alguns feridos. As bombas não funcionaram direito e o estrago foi relativamente pequeno.  No dia seguinte me convidaram para ir até o hospital visitar as vítimas, mas recusei. Não me senti preparada para ver o que ouvi.
A última bomba tinha sido em setembro, sem mortos nem feridos. No natal passado não foi brincadeira. Com um grande feriado religioso chegando, todos esperam o pior mais uma vez. 
Ninguém se espantou, pelo jeito foi só mais um dia em Jos. Não foi só mais um dia pra mim.O jeito é partir. Vou embora com um misto de sentimentos: saudosa, aliviada, ainda digerindo. 


Olho por olho


A região em que estava se chama Jos. Não tinha comentado até agora o nome da minha cidade porque não queria preocupar ainda mais meus leitores número 1: mamãe e papai. Eles provavelmente pesquisariam sobre o lugar e teriam um infarte fulminante. Achei melhor dizer só depois de partir.
A capital do estado de Plateau, que um dia foi conhecida pela paz e pelo turismo, vive em conflito há mais de dez anos. São cristãos contra muçulmanos, tem fundo político, tem herança tribal. Milhares tiveram suas casas queimadas, familiares mortos e a cidade foi dividida. Agora tem cada um para o seu lado. Um não vai na área do outro e ainda tem muita coisa acontecendo.
Tem check point a cada quinhentos metros com militares armados com fuzil e tanque de guerra. Eles dizem que é só uma crise e que com muita oração a paz vai reinar (cada um com seu Deus).
O que parece óbvio, não é. Um lado não percebe que o outro também sofre e que não tem mocinho, nem bandido nesta história. Os comerciantes do mercado não vendem como vendiam, ninguém mais sai na rua depois das seis, não visitam mais seus amigos que tem casas do outro lado, não fazem mais festa depois que o sol se põe.
Claro que quando cheguei e vi os militares e suas armas de um metro e meio me assustei. As casas abandonadas e queimadas também amedrontam. Mas a verdade é que quem sofre só são os envolvidos. Os poucos ricos da cidade seguem sua rotina. Eu mesma me senti bem segura por lá e caminhava pelos dois lados – basicamente porque sou branca e assim sendo sou respeitada sem questionamento
Em casa, moravam três garotos da organização porque suas casas foram queimadas, a vizinha viu três pessoas da sua família serem mortas queimadas e não pode fazer nada. E todos contam suas histórias trágicas. Não podem mais visitar os amigos que vive do outro lado, uns não têm mais escola.
É uma nova Ruanda, a mesma velha história com milhares de novas vítimas. Mas enquanto fica só entre eles, você não vai ouvir falar disso muito na mídia. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Lá no orfanato


Enquanto a organização ia devagar quase parando por causa do fim de ano chegando, comecei a ir em um orfanato próximo. Todos os dias pela manhã para dar aula e brincar com as 22 crianças de lá.
Elas vieram de vilarejos remotos,  perderam seus pais ou foram perdidas. Algumas pela AIDS, muitas pelo conflito e outras pela miséria. Elas chegaram em março, assustadas e mal nutridas. Mas a mantenedora de lá é mais do que porreta! Ela também foi orfã e sabe o que isso significa. Tem também os voluntários que não deixam a peteca cair.
Nove meses depois, elas estão saudáveis, felizes e falantes. Já falam inglês e algumas já estão escrevendo e lendo. Nos divertimos muito e aprendemos bastante juntas nestas últimas semanas. Porque há de ter esperança!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Tá dominado, tá tudo dominado

A Nigéria foi colônia inglesa e a língua oficial é o inglês. Mas isto é só oficial. Uma coisa é o papel, outra coisa é a realidade. Na rua tem dialetos e dialetos, inglês quebrado, e pigeon English. Mas se você quiser impressionar é só dar uma de lord. Parece que qualquer coisa dita por aqui com um sotaque britânico soa melhor, mais bonito, mais correto....e mais forçado e artificial. Quando alguém quer parecer importante fala inglês e carrega no sotaque britânico misturado com o jeito de falar daqui e fica aquela mistureba louca. Tô até que acostumada, mas em geral tenho que  me esforçar para ser entendida também.
E aí tem também os missionários cristãos e também os muçulmanos que vieram. Tudo gira em torno da religião. Só mesmo Deus para dar esperança.  Então, quando questionados sobre a resolução de qualquer problema a resposta é sempre a mesma: ‘o jeito é rezar’. Ou senão, o jeito é perguntar para os brancos que sabem mais, são mais inteligentes. Este povo foi forçado a acreditar de que eles podem menos, que seu modo de vida é errado e a única saída é copiar o modelo promissor europeu. Para quase tudo, eles perguntam ‘o que você acha?’ Esperando a resposta para seus problemas sem pestanejar.
Bom, a a colonização europeia é a causa do problema e não a solução. Mas nada mais forte do que o poder simbólico. Quando se domina a mente, o  estrago tá feito.

Muitas cabeças, uma ideia

Em uma reunião com líderes de diversas comunidades da região (Plateau State), eis que eles começam a enumerar os problemas que os afligem. A ideia é discutir e juntos pensar  em alternativas. Quase todos reportam os mesmos problemas:
- Dificuldade de encontrar água limpa durante a época da seca.
- Convencer a população a não utilizar o único riacho para defecar, passar o gado e afins.
- Briga por disputa de terra resolvida no “olho por olho”.
- Alto índice de adolescentes grávidas.
- Mortalidade infantil.
- AIDS, cólera e malária.
Todos os representantes são não governamentais e recebem ajuda humanitária da União Europeia.Por incrível que pareça, arrecadar o dinheiro não é o maior problema. Difícil mesmo é por o plano em ação com um governo corrupto, com o histórico de conflitos, com as diferenças (tribal, política, religiosa).
Apesar dos pesares, foi muito bom perceber a quantidade de pessoas da própria comunidade envolvida e com sede de mudança. 

Infância Roubada

Aqui não tem tempo pra infância. Nasce-se com tarefas, com trabalho árduo, com poeira no rosto e vazio no estômago. Criança cuida decriança e criança faz mais e mais crianças.
O país mais populoso da África está abarrotado de pequenos sem futuro promissor.  Aqueles que nunca vão nem saber o que é um cinema, um carrinho, um chocolate, um refri. Que não vão pular corda, nem comer bolo na casa da vó. Nada de roupa nova no natal, de rir à tôa de frente da TV, nada de chá na cama quando se está doente. Nada de livro, quase nada de escola, nada.
E não me venha com aquele discurso barato de que não se sente falta do que nunca viu e eles são felizes porque às vezes sorriem. Os que conseguem sobreviver não chegam ao 60. Estes mesmos sem infância são também sem velhice. Aqui mais do que em qualquer outro lugar o jeito é‘aproveitar porque a vida é curta’.

Até que a morte os separe

Só para não perder a fama de santa casamenteira fui num casamento aqui. Uma irmã de um dos meninos que moram comigo.
A noiva, animadíssima entra dançando, mas não só ela. Assim também entra o noivo, as damas de honra, a família do casal, os padrinhos e madrinhas. Eles dançam em direção ao altar e todos os outros convidados também mexem o esqueleto. Por aqui, não tem tempo ruim. Logo depois, joga-se dinheiro  em vez de arroz nos noivos. Comida farta, muitos sorrisos, vestido branco. Nada de bebida alcoólica porque qualquer que seja areligião, ela é levada a sério, a sério demais.
Em dia de festa, os problemas ficam para trás, deixa pra amanhã.

Pão e Circo

Este projeto que trabalho como voluntária aqui na Nigéria é o único não diretamente ligado a educação. Trabalho para uma ONG que tem projetos principalmente relacionados a prevenção e saúde. Viajamos de vila em vila, ora para explicar sobre a importância do uso da tela de mosquito por causa da malária, distribui-las e vierificar de casa em casa se e como estão sendo usadas; ora reunião com líderes comunitários para discutir sobre planos de ação e solução de problemas que vão de falta de água limpa, disputa de terra à planejamento familiar; ora para organizar um campeonato de futebol com jogadores  soro-positivo entre comunidades.
Cada saída de campo tem sua mágica, as comunidades são mais pobres do que eu imaginava ser possível e visitar estas casas e conversar com a população é intenso. Primeiro porque em muitos destes locais, eu sou a única pessoa branca que eles já viram e eles me encaram como se eu tivesse vindo de Marte. Eles tem o que comer, mas é sempre a mesma coisa – carboidrato puro, moram em casas de argila e palha. Não tem banheiro, não tem água, não tem luz, quase não tem escola, não tem hospital, não tem, não tem, não tem...a lista dos nãos é infinita.
E os líderes comunitários, na sua maioria voluntários, trabalham sem parar. Os projetos sobrevivem de doação que vem do exterior e são mais que necessários num país em que não se espera nada do governo.
Fui até uma comunidade bem remota assistir a final do futebol. As pessoas precisam se divertir também e foi o maior alvoroço. Torcida, gritaria, discursos. Queriam porque queriam que eu fosse a juíza do jogo – afinal, sou brasileira. Tive que explicar que eu não entendia nada de nada, então fiquei de fotógrafa do evento.
Todos animados e felizes da vida com o evento social, mas como todo bom brasileiro sabe – ‘alegria de pobre dura pouco’.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Meu, seu, nosso

Por estas bandas, muito arroz com feijao, pouca agua, grilo frito aperitivo, dan'cas, muito pouco acesso a internet e nada de teclado em portugues.
O trabalho ainda vai calmo, escrit'orio, documentos. Nao vejo a hora de entrar em a'cao, mas faz parte. Muitas criancas pedindo esmolas (elas me puxam, me abra'cam, me seguem), muita coisa velha, nada de hospitais e muito poucas escolas. Todos tem alguem na familia que morreu cedo, nao se sabe por que. Um irmao que ficou cego de um dia para o outro e o medico disse que a solucao seria rezar. Um outro conta que a mae morreu de uma doen'ca muito perigosa: pedra nos rins. Num pais onde a expectativa de vida 'e de 50 e poucos anos, estas historias sao infinitas e nao se ve gente idosa.
E num lugar onde todos tem muito pouco, o jeito e' dividir. A no'cao de posse quase nao existe e nao e' facil para mim se livrar do individualismo. Pega-se tudo de todos. Eu me reviro pra ca, pra la e sorrio amarelo.
  O ar seco e a poeira corta a pele e seca a alma e assim vive-se, sem questionar.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma explosão cultural


Meus primeiros dois dias foram cheios de novidades e eu ainda estou reconhecendo o terreno. A casa onde moro pertence a organização e somos em quatro pessoas. Tem uma norueguesa, um cara da Costa do Marfim e todos os outros membros são nigerianos. Muita gente frequenta a casa, que está sempre viva e animada.
A pobreza choca, as histórias pessoais também. É engraçado que quanto mais sofrida a comunidade, mais otimista e animada ela é. Todos acham que tudo vai melhorar, dançam e riem sem parar. Nas ruas, boa parte da população é meio rude, bruta, o jeito durão de ser dos calejados. Só que um sorriso e um obrigado faz mágica em quase todos os lugares do mundo.
Viver quase sem energia elétrica, sem água encanada, sem TV, sem rádio e sem internet é complicado, mas bem menos do que você imagina. Já estou craque em pegar água do poço, em lavar a roupa num baldinho, a ter minha lanterna sempre em mãos e aprendi na Indonésia a tomar banho sem chuveiro. A comida é meio forte e meu estômago ainda está aprendendo, mas ele é forte. Já são quatro meses sem dores, sem vômitos, sem diarreia. Meu sistema digestivo merece um prêmio!
Ontem vi no mercado comidas locais...yummy! tem grilo frito! Mas acho este não vou encarar não. Tem cocada, arroz com feijão, mandioca, batata, nhame e eles adoram bode. Caracas, experimentei sopa de bode, não deu para negar e acredite: não desceu redondo.
            Ainda não comecei a trabalhar, estou sendo apresentada aos projetos, reconhecendo a área, tendo milhões de reuniões. Estou ansiosa, mas ainda vou ter que esperar mais uns dias. Ainda estou apenas visitando os escritórios, dando pitaco nos projetos, organizando eventos. Mão na massa mesmo só segunda que vem. Não vejo a hora!
Home sweet home

11-11-11


            Eu não sou supersticiosa e não me atento muito em datas, mas confesso que meu dia 11-11-11 não foi como um outro qualquer. Peguei um avião na madrugada de Bangkok para Addis Ababa, Etiópia. Sem dúvida, o check in mais complicado, demorado e irritante. Passei a noite no avião do lado de um jogador de futebol de Camarões. Cheguei na Etiópia num aeroporto pequeno, mas organizado. A cidade fica a menos de cinco quilomêtros do centro, mas não deu para ver muito. Meu próximo voo - de Addis Ababa para Abuja – atrasou, só para não perder o costume.
            Cheguei em Abuja com um certo perrengue na imigração às duas da tarde. Fui muito bem recepcionada e seguimos o nosso caminho. Claro que chegar no oeste africano é impactante. Uma secura, um calor, uma muvuca que eu nunca tinha visto parecida. Achei que iria enfim descansar, mas o caminho até o vilarejo foi bem mais longo que o programado. Chegamos meia noite. O dia terminou depois de três países, dois voos e uma longa estrada.  Tudo é novo, tudo é diferente e eu estou feliz de finalmente poder estar aqui e viver esta experiência.
            O único problema é que parte dela é ter muito pouco acesso à internet. A casa em que vou morar pertence a organização, fica dentro de um campus da universidade. Mas aqui não existe água encanada e a energia elétrica é um luxo momentâneo e imprevisível, então acho que nem preciso comentar que a internet é raríssima. Temos um poço artesanal no quintal e muitas velas. Todos estão me tratando especialmente bem, são solidários e querem saber o que eu quero, como eu estou, o que podem fazer para me ajudar. Este povo é sofrido, mas adora uma festa.
            Então o blog vai ficar temporiamente fora do ar, ou com visitas esporádicas, enquanto eu visito escolas em diferentes comunidades na região. É só por um mês. Depois eu volto contando as novidades com mais detalhes!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Bangkok - Para quem não tem medo de chuva


Depois de algumas horas na moderna, limpa e cara Singapura cheguei em Bangkok.  Tudo o que se falava na mídia sobre a enchente é verdade. Barreiras de proteção ainda seguram a água na parte central e a vida segue seu rumo com alguns tropeços.
Entre as minhas andanças pela cidade cheguei até uma área perto do rio que está alagada faz é tempo. Eu estava meio de bobeira, tentando chegar até o outro lado para visitar um templo. Um homem dentro de uma casa com água até quase o joelho começa a conversar comigo. Ele ficou todo feliz que eu era brasileira, queria saber do Pelé, do café e principalmente do Daniel Alves. Ele me contou seus perrengues com esta enchente e na hora de dar tchau desejei a ele boa sorte, disse que eu esperava que tudo voltasse ao normal logo, que eu sentia muito. Ele com um sorrisão me diz:
“Hey Ms., me lucky man, always lucky man. Good life! And you, you big heart, big smile like Thai people. Want visit my house, Ms.? Tea?”
Agradeci , dei tchau e fui  embora. Quanto mais eu acho que já vi de tudo, mais  as pessoas me surpreendem! 

domingo, 6 de novembro de 2011

Adeus Indonésia

Terça cedinho pego o meu rumo para Singapura, depois alguns dias em Bangkok e finalmente Nigéria. Começa um novo capítulo. Estou ansiosa e animada, mas sabendo que vou sentir uma falta danada daqui e de muitos que por aqui conheci.
Novidades e despedidas, despedidas e novidades...eis minha minha rotina. 

Mamãe me mandou esta foto, só para eu morrer de saudades. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma ilha paradisíaca não é o paraíso

Quantas coisas podem dar errado num dia só? Bom, vamos contar.
Acordei às 3:30 da manhã com sono mas feliz da vida, peguei o taxi às 4:00. Encontrei minha parceira de viagem húngara às 4:15 e continuamos a viagem até chegar ao porto onde nosso barco partiria para Pulau Tidung. Encontramos o guia às 6:00 e fomos para o barco. Depois do esperado atraso de uma hora e meia o barco partiu às 8:30. O guia sorridente, nos devolveu o dinheiro já pago para o pacote de três dias com muita praia, kaiak, bicicleta e snorkeling antes do barco partir. Perguntei por que e a resposta foi ‘no problem’. Entendi que deveríamos pagar no escritório da ilha.
Dormi durante o percurso e quando acordei um homem pedia que eu pagasse pelo barco e eu disse:”Não, eu estou com um pacote, Maro Travel”. Ele pega o telefone liga para alguém e me entrega. Do outro lado da linha: “Hi, yes, well, I didn’t like it. No good money. I gave you the money back, no package.” (resumindo, o fdp cancelou o pacote, saiu do barco e não nos informou).
Eu tava meio de cara, mas pensei: “Ah, dane-se, a gente acha um lugar para dormir, curte a ilha e pronto”. Tinha um grupo de turistas e resolvemos segui-los, explicamos nossa situação e eles disseram: “Venha com a gente e converse com o guia”. Ok, parecia boa ideia.
Quando chegamos na casa onde eles ficariam, escutamos gritos lá dentro. Um alemão raivoso com um sotaque digno de um fuehrer berrava: “Garbage, garbage, this is garbage”. E eu pensei: “puts, ele tá gritando ‘lixo, lixo’...isto não pode ser um bom sinal”. Eles também tiveram problemas com o pacote e resolveram voltar para Jakarta.
Mas opa, não tem barco de volta hoje...este era o discurso de todos na ilha. Como todos sabiam que a gente não tinha muita alternativa, todos queriam cobrar pelo menos 3x mais do que eu vinha pagando em hotéis baratos.  Eu tava de cara e ninguém me entendia. Anda para cá, anda pra lá e um guia diz: “Olha, os alemães vão voltar com um barco por 3 milhões de rupias.” (Três milhões são uns 300 dólares...isto porque para chegar a gente pagou 30 mil, ou seja, 3 dólares). “Mas para vocês 200 mil cada”. Cara, sete vezes mais do que a ida. Não pode ser. A húngara, nesta hora, já tinha cedido. Mas eu estava pronta para encontrar outra solução.
Achei um escritório, tipo uma mini prefeitura, expliquei o que estava acontecendo e  - surpresa! – tinha um barco de tarde por 35 mil.
Andamos pela ilha, tomamos uma água de coco, demos uma nadadinha...eu queria pelo menos dormir por lá, mas o dia tinha sido dureza. Perguntei numa outra homestay e achei um preço até camarada, mas a húngara já estava só o pó e depois de tudo aquilo eu não estava no espírito de ficar sozinha. Eles iam me cobrar os céus por um prato de arroz. Conheço bem este povo de lugar turístico. Branco = milionário otário. Vou me embora que eu ganho mais.
Claro que o barco de volta quebrou, teve que trocar o motor em uma outra ilha, chegamos em outro porto do outro lado da cidade, tivemos que pegar um taxi que não sabia o caminho de volta e parou para fazer xixi atrás de uma árvore e nos deixou em um shopping center no meio do caminho e pediu que pegássemos outro taxi. Aí caiu a chuva, esperamos mais uma hora pelo taxi, que também não sabia o caminho de volta, não consegui entrar em contato com meu host então tive que de alguma maneira lembrar o caminho de volta.
Pronto – cheguei em casa às 10:00 da noite, tomei um banho e capotei. Só podia mesmo ser dia das bruxas. Elas existem. 
A ilha

sábado, 29 de outubro de 2011

O uso do véu

          Campanha sobre o uso do hijab (véu em árabe). Não precisa de muita explicação mas o pirulito representa a mulher e o plástico seria o véu. Sem mais delongas, Beauvoir se revira no túmulo de novo. Mas discutir campanha religiosa é complicado demais então vamos só rir do minha primeira interpretação.
    Quando vi a imagem pela primeira vez achei que fosse uma campanha em prol do uso da camisinha. 
Not really, not really....

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um feliz encontro com Pessoa

Numa visita a universidade, eis que resolvo ir até a biblioteca. Enorme, digna da maior e mais famosa universidade da Indonésia e considerada a maior biblioteca do sudeste asiático (é o que dizem, não me pergunte se é verdade). Na minha procura por livros em inglês, encontro uma estante esquecida no canto, empoeirada. Minha curiosidade sempre me surpreende. Na estante, livros em português e espanhol. Dois autores foram escolhidos para a seleção de mais ou menos 20 livros em português: Fernando Pessoa e José Saramago. Bem escolhidos e merecida  minúscula seleção.

Que bom rever Pessoa e desassossegar! Meu presente adiantado para o Dia Internacional do Livro!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Aprendendo e ensinando - Ensinando e aprendendo

No Brasil, já tinha me acostumado a dar aulas apenas para o ensino fundamental I. Mas aqui eu não escolho, me colocam em salas diversas. Muitas vezes eu visito uma turma apenas duas ou três vezes, só para que os alunos me conheçam, para trocar algumas experiências. Daí, dá-lhe ideias de última hora, brincadeiras, jogos. Tenho minhas cartas debaixo da manga, mas sempre tenho que ter um plano B ou C. Porque posso tanto ensinar uma turma de alunos de 5 anos como alunos de 17.
Para um ser metódico como eu, nada como ser exposta ao inesperado...
E não é que é incrível?
Pré escola
Fundamental II e Ensino Médio
Fundamental I

domingo, 23 de outubro de 2011

A arte de se comunicar

Para se virar num lugar em que você não fala a língua, tem que ter o dom de escolher a palavra certa, a mímica certa e o sorriso certo. Depois de um tempo você começa a entender o básico: número, quanto custa, por favor, obrigada, verbos mais usados, alguns objetos. E é com o meu vocabulário de mais ou menos 50 palavras de bahasa Indonésia e uma mistura com inglês e português  que eu converso sem parar.  
Na minha casa de Jakarta todos falam um pouquinho de inglês (já tenho três casas aqui, que maravilha). Isso não nos impede de papear sobre tudo que você possa imaginar.
Descobri mais ou menos como funciona a estrutura da língua e quando converso uso apenas o pronome principal da frase (eu, você...), o verbo de ação predominante sempre no presente (não sei bem o motivo, mas ‘comer’ é usado com bastante frequência) e um substantivo ou adjetivo necessário. Em geral, eu tento o que eu sei em bahasa e o resto é em inglês com o sotaque daqui e gestos, muitos gestos. Se a história já foi, eu aponto com o meu braço para trás, se é agora aponto para o chão e se é no futuro aponto para a frente.
Assim conversamos sobre educação, corrupção, problemas de família, assuntos pessoais, besteiras em geral. No meu segundo dia aqui, Lebanah, a mãe, me diz: “Maria no big city girl, Maria like nature, jungle and Maria social. Maria not money, money, money”.
 Ok, de um jeito ou de outro estamos nos entendendo muito bem. 
iki.fi/markus.koljonen 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Jakarta Revisitada: Viva as diferenças?

Estou de volta a Jakarta, meu porto de entrada na Indonésia no final de julho. Tive uma impressão nao muito boa; mais uma grande cidade, aquela coisa. Logo percebi que ela tinha muito mais a ver com todas as outras grandes metrópoles do globo do que com o país em si.
Cheguei aqui para resolver meu visto do próximo projeto. A organização encontrou uma casa de um ex interno por aqui que queria ser host, então estou em mais uma casa de família. Eu tava uma pilha de preocupação, mas correu tudo bem e eu já estou com o visto na mão. Era para levar vinte dias e levou menos de 24 horas.  Ueba!
Pára tudo – fui muito bem recepcionada numa casa enorme e cheia de luxo, depois de meses tomando banho de balde e água gelada, atrás de papel higiênico e dormindo e comendo no chão. Olha, já tinha até me esquecido destas coisas e estava indo bem. Mas como é fácil se acostumar com o luxo...até ar condicionado. Então, esta nova visita a Jakarta é mais como uma temporada no spa.  Carro, comida de primeira, TV de plasma, todas as marcas internacionais que você pode imaginar.  Só que bem antes de achar normal, eu achei estranho pra burro.
Se temos Brasis, também  temos Indonésias.  Uma multiculturalidade e diferenças gritantes. Social, então, nem se fala. O que não falta por aqui são shopping centers com padrão internacional e pessoas pedindo esmola. Criança que fala inglês e criança que canta no farol para ganhar um extra para família, ônibus lotado e carrão vazio.
Seria muita hiprocrisia da minha parte dizer que não estou aproveitando esta mordomia, mas é impossível achar tudo isso comum. Bom então, não, digo não às diferenças.

Sonhos num bairro nobre da cidade
"Pedi tão pouco à vida e este mesmo pouco a vida me negou."


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ah, a vaidade

Lá se vão três meses sem salão....
Banho de balde
Meus dedos viraram meu pente preferido
A manicure é o cortador de unha
E para finalizar o look:
Troquei o perfume pelo repelente  e uso protetor solar como maquiagem.
Meus dias de princesa ficaram para trás - se é que eles um dia existiram.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Terra Instável

Vou esta noite para Jakarta e quando tento definir o que mais me marcou em Padang têm várias coisas na minha cabeça.
Têm o calor insuportável, as belíssimas praias, o lixo na rua e os bichos que ele traz, o tradicionalismo muçulmano,  o seu povo amistoso e devagar. Só que nada disso se compara à sua história de terremotos.
O último que botou para quebrar foi em 2009 e milhares de pessoas morreram, boa parte da cidade foi destruída e a vida de quase todo mundo mudou. Este foi o último grandioso, mas quando teve aquele tsunami no sudeste asiático a terra tremeu muito aqui antes dele  e em 2010 teve mais um com muitas vítimas e tsunami nas ilhas de Mentawai. O turismo não é mais o mesmo. Os pequenos tremores são constantes e apesar de eu não ter sentido nenhum, dizem que por aqui a terra balança sempre. Há um mês teve um com uma potência razoável ao norte da ilha de Sumatra, muitos dizem que sentiram, eu não percebi nada.
Então pela cidade têm prédios destruídos por toda parte e cada morador tem sua história para contar. Na escola tem uma garota sem as pernas (o terremoto levou)  muitas crianças mudaram de suas casas (o terremoto levou) e acredito que todos aqui perderam alguém especial  (o terremoto levou).
Estudei na escola sobre o ‘Círculo de Fogo’ e ensinei para os meus alunos em ciências depois, só que agora descobri o que ele é, onde realmente ele fica e o impacto que ele tem sobre as pessoas. 
Foto do blog http://www.jefriaries.blogspot.com/

domingo, 16 de outubro de 2011

Lá vou eu embora, de novo

É estranho se despedir de pessoas que você sabe que não vai ver de novo.  Terça que vem parto daqui para Jakarta, onde fico por algumas semanas resolvendo pepinos burocráticos antes do meu próximo projeto. Então hoje foi o meu último dia na escola.  Recebi muitas cartas das crianças cheias de “Don’t forget me” and “Come back soon”.
Esquecer esta experiência seria impossível, mas voltar também não é nada provável. Tantas passagens, tantas vidas.
Estes dias estão sendo corridos, cheios de jantares de despedidas, passeios e fazer a mala – mais uma vez.  Eu adoro mudança, eu adoro viajar, mas esta parte de deixar pessoas para trás é sempre difícil. Se despedir com um  ‘adeus’ de verdade é ainda mais esquisito.  Eu não sou do tipo que demonstra sentimentos, mas sinto por dentro. Mais uma das muitas coisas que eu ainda tenho a aprender.  
O projeto na escola foi intenso. Me irritei muito com a falta de planejamento, com a quantidade de horas que são usadas para reza e estudos do alcorão, com os atrasos constantes, com a falta de consistência.  É díficil mudar num lugar que ninguém briga, ninguém reclama, ninguém discute.
No final, correu tudo bem, a  vida segue seu fluxo. Acho que minha ideia de introduzir o planejamento aqui não dará frutos. Mas no final o que interessa  são as  pequenas ações e vou me contentar com os momentos de aprendizado que tive.
 Foram muitos e foram bons!


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ah, o Brasil

Quando me perguntam de onde eu venho, geralmente eu peço para que tentem adivinhar e até hoje ninguém acertou. É sempre: “Australian, Ms.? German? Spanish? American?” Já fico feliz com o ‘Spanish’, porque o Brasil aqui é uma terra tão, tão distante que na maoria das vezes eles nem consideram como uma possibilidade. Além disso, estrangeiro é pele clara e alto e ponto final.  São todos colocados no mesmo balaio. Acredito que um dos motivos seja que viajar para outro país é quase impensável para a grande maioria da população da Indonésia. A moeda simplesmente não ajuda. E como a educação também deixa a desejar, o conhecimento geográfico aqui....é praticamente inexistente.  (Na verdade, acho que se você perguntar para um Brasileiro sobre a Indonésia, não seria muito diferente. É longe pra burro e a terra é populosa demais...)
As perguntas sobre o Brasil têm sempre o mesmo tema – futebol. Tem um menino na escola que se chama Rivaldo, em homenagem ao ídolo do pai. Só que quando o assunto não é futebol, este é o tipo de coisa que eu escuto:
- O Brasil fica perto da Espanha?
- O Brasil é uma ilha?
- No Brasil se fala inglês?
- Eu queria fazer meu mestrado nos EUA, daí eu vou estar pertinho do Brasil.  Dá pra ir de ônibus?
- Nossa, Maria, olha que legal, este moço é espanhol, até que enfim você encontrou alguém da sua terra.
- O Brasil fica no Pacífico?
- Mas vocês falam português por quê? Estão do lado de Portugal?
- Existe gente loira no Brasil? Todo mundo é alto assim? Tem até negros?
              - Eu sei uma palavra em português: Gracias.  Viu só Maria?
Vi, eu vi que minha terra é mais desconhecida do que eu imaginava.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A descoberta etílica

Entre uma conversa e outra com uma garota da organização eis que surge o assunto. Começou assim: “Eu queria te perguntar uma coisa. Posso?”, disse ela. E eu: “Claro, pode me perguntar o que você quiser, sem problemas”. E a pergunta foi: “Cerveja e vinho são a mesma coisa?...É que eu nunca vi, eu não sei como é que é, você sabe?”
Daí eu comecei a explicar, dizendo que não, vinho é feito de uva fermentada, pode ser branco ou tinto. Cerveja é uma bebida fermentada também a base de cevada, pode ser de trigo. Geralmente é servida gelada, é amarelada, com uma espuma em cima...
E o papo continua:
-  Ahhh, mas trigo não é o cereal que faz pão?
- É, mas pode-se fazer cerveja também...vinho e cerveja são duas bebidas diferentes como chá e café.
- Ahhhh...entendi. E coquetel, o que é um coquetel?
- Coquetel...bem...tem muitos tipos...você mistura ingredientes diferentes para fazer uma bebida. Pode ser de frutas, a maioria é com alguma bebida alcoólica, mas existe coquetel sem álcool.
- Tá. Eu vi num filme que tem uma bebida que se chama rum. Mas eles usaram para cozinhar, então é um ingrediente para se fazer comida?
- Olha, pode-se usar rum para cozinhar, mas rum se bebe também...por exemplo, você pode fazer um coquetel com coca cola e rum. Tem outro com rum, limão, acúcar e hortelã...tem muitas formas.
- Ok. Só mais uma pergunta. E champagne? O que é champagne?
- Ah, champagne é tipo um vinho branco, mas espumante. Sabe, tipo água com gás....ou refrigerante...não têm aquelas bolhas?
- Ahhhh, então é vinho com soda....
- Não.  Não tem soda, é tipo um vinho branco com umas bolhas de ar.
- E daí você bebe estas coisas e fica bebâda....mas como é ficar bêbada? O que a pessoa sente?
- Olha se você beber só um pouco você não fica bêbada não...mas você começa a sentir seu corpo diferente...perde um pouco o reflexo...tenm gente que ri, tem gente que chora. Mas se você beber demais você vomita.
- Nossa, que estranho.

 Estranho mesmo foi este papo sem pé nem cabeça. A coitada teve que se satisfazer com a minha explicação mequetrefe e eu tive que me contentar com o chá com limão e mel que eu tomava durante a conversa. 
Foi assim que minha vida de profissional voluntária começou. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Uma camêra a menos, muitas experiências a mais

Minha querida camêra foi presente de papai , Sony Super zoom, para que eu registrasse meus momentos especiais. No começo, achei pesada demais, nada prática...mas depois de uma semana já estava na dela. Super fácil de usar com um zoom realmente sensacional. Me acostumei com o seu peso na mochila e logo ela se tornou a minha grande companheira inseparável nesta jornada. Mas assim como ela veio, ela se foi – cheia de mistérios, sem despedidas.
Resolvi de última hora voar para Medan que fica uma hora de distância daqui, lá perto fica Bukit Lawang, cidade sede de um parque nacional com orangotangos. Fui sozinha, sem muitos planos depois do trabalho. E lá, na sala de embarque do aeroporto de Padang, a máquina some da mochila. Não vi quando, nem como, nem onde exatamente...Fiquei super frustrada e jururu, mas a viagem ainda estava por vir.
Cheguei em Medan no final da tarde, achei um ojek (moto taxi) que me levasse na estação de ônibus para achar algum que fosse para Bukit Lawang. Quando cheguei, o ùltimo ônibus já tinha partido, então lá vou eu descobrir uma mini van embaixo de chuva. Não vamos esquecer que eu estava em Medan, a quarta maior cidade do quarto país mais populoso do mundo...sim, o caos reina nestas circunstâncias. Mas eu achei uma sem vidros nas janelas, com a chuva torrencial, e cheia de caixas de papelão entre os passageiros...
Já era noite quando cheguei no vilarejo, ainda sem pousada. Achei um becak – uma motoca com extensão lateral – e pedi que me levasse para uma pousada. Para chegar precisei atravessar 'a ponte do rio que cai' no escuro e embaixo de chuva e foi lá que minha sorte virou.
Conheci um pessoal e passamos dois dias incríveis na selva, com direito a dores nas pernas, muitos orangotangos, camping, cervejinha, risadas, rafting....
Um dia a gente perde, outro dia a gente ganha.
Com a Jack e seu filhote, feliz da vida

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Só muda o endereço

A rotina daqui segue como a daí. Os professores reclamam dos seus sálarios. Acham que o diretor não deveria ganhar bem mais já que são eles que ralam e fazem acontecer. Mas o chefe acha que seus empregados  deveriam se doar  e serem mais comprometidos. Tem fofoca no corredor e meninos aprontando.  Gente morrendo de sono na primeira aula e desculpas esfarrapadas para explicar a falta de lição de casa.
Em casa, Intan reclama que não tem tempo para ficar com a família. Reclama que o mercado tá caro, que a corrupção no governo é demais e que o marido chega muito tarde do trabalho. Domingo é dia de diversão em família, em casa, no parque, na praia, no rio.
Nas ruas, o transporte público é lotado, a fila do banco é desesperadora e a burocracia para renovar a carteira de identidade é de chorar. A vizinha reclama do amor não correspondido e do barulho da casa do lado também.
Entre nossas diferenças, eis  que no fundo  somos todos iguais. 
Os meninos daqui também se divertem.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mamãe, aqui também tem barata

Sempre começo um tópico aqui e logo pulo para outro. Escolher um título para o post é sempre complicado. Tem tanta coisa diferente e tantos assuntos que eu fico perdida. Então fica assim, um monte de coisa  misturada, jogada no ar. Acho que você já percebeu e já até se acostumou, mas nunca é tarde para se explicar. Desculpa esfarrapada feita, agora vamos aos fatos.
Sou cegueta, tenho 4.5 de miopia e não vivo sem minha lente de contato. Trouxe algumas, mas achei melhor ir atrás de uma ótica para ver se achava aqui mais algumas, só para garantir. Cheguei na ótica, com minha habilidade linguística deixando a desejar e expliquei como pude o que queria. A vendedora tentou e conseguiu me entender. Ótimo, maravilha, fiquei me achando a poliglota. Ela foi então me mostrar onde estavam as lentes e quando vi, tinha uma super barata andando entre as caixas. Não sabia se avisava ou não, não queria que ela enfiasse a mão na barata. Então disse: “Hati hati” (ou seja, cuidado). Ela, com a expressão mais calma e natural possível, simplesmente espantou a barata com a mão e pegou a caixa. Dei um sorrisinho amarelo e agradeci, ela não tinha a marca que eu uso e eu não fiquei muito entusiasmada com a compra. Isso me fez lembrar mamma mia.
Minha mãe não suporta baratas, não é verdade, Zena? Ela me perguntou algumas vezes se aqui tinha muita. Sim, aqui tem muita barata nas ruas, nas lojas, no angkot. Mas este episódio foi sensacional, fiquei rindo sozinha depois, só pensando em como minha mãe reagiria. Ela teria dado um escândalo daqueles. Daí me peguei pensando no meu banheiro daqui.
Já descrevi as peripécias higiênicas algumas vezes, mas ainda não mencionei que  meu banheiro fica na cozinha. O banheiro tem uma parede que não vai até o teto e ele fica na cozinha e é lá no banheiro também que se lava a louça. Nunca tem água na torneira da pia, então a gente deixa uns baldes cheios no banheiro e é com esta água que se lava a louça e também a bunda...(desculpe-me pela falta de tato, mas é verdade). Agora imagine-se com dor de barriga no momento em que alguém está preparando a janta.

Ao mesmo tempo que falo tudo isso, tenho descoberto como é simples se acostumar com as mudanças. É assim que funciona aqui, então vamos que vamos. De alguma forma - que eu talvez não entenda por causa dos costumes em que cresci - dá certo, funciona, vive-se. Conto porque sei que lhe parece estranho, mas o seu certo aqui é errado, entende?


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A mão direita, insetos e pesadelos

Preciso amarrar meu braço esquerdo nas costas, colar minha mão no bolso, ou tentar uma outra alternativa. O que não dá é continuar esquecendo que a mão esquerda é impura por aqui (não vamos esquecer que não tem papel higiênico no banheiro e o pessoal se lava com a mão esquerda – sem mais detalhes).
De vez em quando, entrego o dinheiro com a mão esquerda, entrego livros para as crianças, uso a mão para comer e demora alguns minutos para eu perceber que tem alguma coisa errada. Eles me olham com receio, não estendem a mão em retribuição...só daí eu percebo que tem alguma  esquisista. Sou devagar, eu sei.
Falando em mão direita, deixa eu mencionar o coitado do meu pé. Na minha pele não tem espaço em que não haja uma picada. Depois do infortúnio com o rato, minhas noites que seguiram aquele nojento episódio não foram fáceis. Eu estava com tanto medo que aparecesse um rato que esqueci completamente de passar repelente. Aqui tem muito pernilongo - demais no caso - e um dia sem repelente na hora que está escurecendo já é o suficiente. Agora o coitado do meu pé, também direito, está tomado...o resto do corpo também, mas sem comparação.
Mentaliza, mentaliza, Maria Isabel, nada de coceira, nada de coceira....
Espertinhos

domingo, 18 de setembro de 2011

A Tradicional Zona

Na escola em que estou  o estilo é bem tradicional: o professor fala e o aluno escuta, uniforme bem passado e sapatos pretos, carteiras enfileiradas, livro didático seguido a risca, nota e prova formal para tudo. Tento trazer uma coisa nova, mudar um pouco, mas é difícil quebrar o sistema, ainda mais em tão pouco tempo.  Além disso  sou a ‘bule’, como chamam estrangeiros aqui. Eu sou um caso a parte, quase um animal exótico e só agora, depois de duas semanas, as crianças estão começando a me ver como professora.



O mais engraçado de tudo isso é que quanto mais eles tentam ser “certinhos”, mais a bagunça impera. Para começo de conversa não existe planejamento a não ser o livro que já está mais do que ultrapassado. Os professores têm muito o que aprender (como todo mundo), mas como são vistos como os donos do saber nada fazem para melhorar. A falta de consistência faz tudo ficar ainda mais sem pé nem cabeça. O que sai de tudo isso é: as crianças são super sem noção, mais perdidas do que cego em tiroteio!

Então a minha meta é tentar convencer os professores a seguirem alguns passos que aprendi e tento seguir. Mesmo tendo muito mais experiência do que eu, eles me escutam e me respeitam. Apreciam a maioria das coisas que eu faço, mas não estão muito empolgados em renovar. O que acontece é que acabam pedindo para eu fazer tudo. Planejo e reviso as provas, programo aulas e atividades extras, lição de casa, corrijo,  participo das aulas, assisto os alunos com mais dificuldade e por aí vai.
Sempre tive um pé atrás com relação a comportamento em sala de aula. Acho super difícil encontrar a medida certa entre deixar os alunos relaxados e encorajados a aprender sempre e manter a ordem. Aqui eu sou quase um general. Eu ainda não consegui entender como eles são tão cheios de seguir o velho método de ensino e ao mesmo tempo tão acostumados com a bagunça das crianças. Sempre têm umas viajando na maionese, outras desenhando, outra que nem pegou o livro. Daí eu vou, de um em um, indignada, dizendo: “pega o caderno; abre na páginal tal; acorda menino; pára de brincar com a régua;  arruma isto aqui que tá errado...” E Eu vou dizendo com o tom de voz e com o corpo, já que a maioria não me entende direito.
Mas assim vai indo, devagar e sempre, como aquele passarinho tentando apagar o incêndio. Nunca me senti tão útil e ao mesmo tempo tão incapaz de mudar.
Eu tô adorando a experiência...e meus domingos então, nem se fale. Para relaxar vai a foto do meu domingo ao sol! Viva!
Sikuai, uma hora de barco de Padang. Assim fica fácil relaxar...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bicho escroto não saia do esgoto

Bom, acho que eu já comentei sobre os ratos daqui. Eles estão em toda parte, muito difícil um dia que eu não cruzo com um na rua. Esgoto a céu aberto, lixo na rua, isto que dá!
Estava aprendendo a me comportar em público, segurar o grito e manter a classe...até que estava conseguindo...até antes de ontem.
Eu estava na cama, quase dormindo (cama não, no meu colchão, durmo num colchão no chão...aqui em casa não tem cadeira, nem mesa, nem sofá, muito menos cama) quando um roedor nojento apareceu EM CIMA DO COLCHÃO! Do meu ladinho, andando correndo e pronto - eu fiz um escândalo. Gritei estridentemente, pulei, corri desesperada e daí claro o pessoal de casa acordou e todos foram até mim. Eu tava meio sem fôlego, sei lá o que me deu, eu simplesmente odeio rato, poxa vida! Sou corajosa para maioria das coisas, sou independente (não totalmente, porque ninguém faz tudo sozinho)...mas isto foi demais para mim.
Tive que dormir na sala, depois de beber água e voltar a meu estado normal que já não é dos mais normais. Coloquei uma ratoeira no quarto e na manhã seguinte tinham dois grudados lá...
Por favor ratos, não apareçam mais....fiquem lá na rua....mas se vocês não obedecerem, aí embaixo está meu plano infalível!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Beauvoir se revira no túmulo

Quando cheguei em Padang fui recepcionada com uma mini reunião de boas vindas. A reunião foi mais ou menos assim: “Oi. Eu sou o vice presidente da organização e estou aqui para te informar sobre a cultura local. Você já está aqui há mais de um mês, então já deve estar acostumada...vou só te passar então uma lista com algumas instruções.”
A lista começou bizarra e terminou mais ainda e eu fiquei com aquela cara de nada só ouvindo. Tentando não me atentar muito aos detahes para não rir. Só mulheres recebem esta lista. Vamos a ela:

  •  Sexo livre não é permitido.
  •  Se estiver acompanhada apenas por um homem permanecer  em um espaço público.
  •   É proibido fumar, principalmente em público.
  •   Não é permitido ingerir bebida alcoólica.
  •   Usar sutiã.
  •  Não jogar absoventes sem cuidado e não mostrá-los em público.
  • Conversa sobre sexo é tabu.
  • Chegar em casa até as 21:00.
  • Informar a organização quando sair da cidade.
  • Usar roupas respeitosas que cubram o colo e o joelho.
A lista continua e vai longe, mas eu esqueci o resto. Na verdade parei de prestar atenção para não me irritar ainda mais. Deixei bem claro pela minha expressão facial que aquilo não fazia sentido. 
Feministas do Brasil e do mundo, uni-vos!


As reprimidas de Padang

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um belo encontro

Renovei todas as minhas energias hoje. No meu dia de folga, encontrei o Rafa, meu velho amigo de infância aqui em Padang. Quem diria?
Ele foi até Mentawai Islands pegar umas ondas e na volta passou por Padang. Morador da Gold Coast, Austrália, surfistinha peruibense. Nos conhecemos desde sempre, mais de vinte anos, com lembranças que vão desde as férias em Flora Rica, a escola das freiras até o batizado da Júlia, do seu casamento e agora a notícia de que ele está prestes a se tornar papai.
Matraquei sem parar, com sede de português e de um ouvido amigo. Parece que fui para casa e voltei!