sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Olho por olho


A região em que estava se chama Jos. Não tinha comentado até agora o nome da minha cidade porque não queria preocupar ainda mais meus leitores número 1: mamãe e papai. Eles provavelmente pesquisariam sobre o lugar e teriam um infarte fulminante. Achei melhor dizer só depois de partir.
A capital do estado de Plateau, que um dia foi conhecida pela paz e pelo turismo, vive em conflito há mais de dez anos. São cristãos contra muçulmanos, tem fundo político, tem herança tribal. Milhares tiveram suas casas queimadas, familiares mortos e a cidade foi dividida. Agora tem cada um para o seu lado. Um não vai na área do outro e ainda tem muita coisa acontecendo.
Tem check point a cada quinhentos metros com militares armados com fuzil e tanque de guerra. Eles dizem que é só uma crise e que com muita oração a paz vai reinar (cada um com seu Deus).
O que parece óbvio, não é. Um lado não percebe que o outro também sofre e que não tem mocinho, nem bandido nesta história. Os comerciantes do mercado não vendem como vendiam, ninguém mais sai na rua depois das seis, não visitam mais seus amigos que tem casas do outro lado, não fazem mais festa depois que o sol se põe.
Claro que quando cheguei e vi os militares e suas armas de um metro e meio me assustei. As casas abandonadas e queimadas também amedrontam. Mas a verdade é que quem sofre só são os envolvidos. Os poucos ricos da cidade seguem sua rotina. Eu mesma me senti bem segura por lá e caminhava pelos dois lados – basicamente porque sou branca e assim sendo sou respeitada sem questionamento
Em casa, moravam três garotos da organização porque suas casas foram queimadas, a vizinha viu três pessoas da sua família serem mortas queimadas e não pode fazer nada. E todos contam suas histórias trágicas. Não podem mais visitar os amigos que vive do outro lado, uns não têm mais escola.
É uma nova Ruanda, a mesma velha história com milhares de novas vítimas. Mas enquanto fica só entre eles, você não vai ouvir falar disso muito na mídia. 

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