quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
Feliz Natal, direto do Camboja
De férias, como a maioria de vocês.
Depois de pegar um trem em Bangkok para Poipet, cruzei a fronteira. No Camboja estive em Siem Ream, Battambang e Pnhom Penh. Já já rumo para o litoral.
Por aqui, muito sossego. Menos o natal, este foi animado. A 'comemoração' começou no final da tarde e terminou quase de manhã no "Heart of Darkness". Super apropriado para o clima natalino, como se pode perceber pelo nome. Mas estou no Camboja. Mais um país sofrido e marcado por guerras, minas, miséria e beleza, muita beleza. Com seu povo sorridente e insistente (bota insistente nisso)!
Como era de se esperar, teve bombas na Nigéria, só sei pela BBC. Espero que fique tudo bem...Cada país carrega consigo uma carga de problemas. Umas histórias mais erradas e bizarras do que outras, mas cada um com sua porção - de culpa, de desgraças, de felicidades, de orgulho.
Feliz Natal para todos, muita esperança e fé para quem tem a sua. Ah,e mão na massa, porque fé sozinha não dá jeito não.
Depois de pegar um trem em Bangkok para Poipet, cruzei a fronteira. No Camboja estive em Siem Ream, Battambang e Pnhom Penh. Já já rumo para o litoral.
Por aqui, muito sossego. Menos o natal, este foi animado. A 'comemoração' começou no final da tarde e terminou quase de manhã no "Heart of Darkness". Super apropriado para o clima natalino, como se pode perceber pelo nome. Mas estou no Camboja. Mais um país sofrido e marcado por guerras, minas, miséria e beleza, muita beleza. Com seu povo sorridente e insistente (bota insistente nisso)!
Como era de se esperar, teve bombas na Nigéria, só sei pela BBC. Espero que fique tudo bem...Cada país carrega consigo uma carga de problemas. Umas histórias mais erradas e bizarras do que outras, mas cada um com sua porção - de culpa, de desgraças, de felicidades, de orgulho.
Feliz Natal para todos, muita esperança e fé para quem tem a sua. Ah,e mão na massa, porque fé sozinha não dá jeito não.
HO HO HO |
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Isto aqui é bomba
Já estou de volta aqui em Bangkok, vou ficar de férias e fazer o que mais gosto no mundo: mochilar. Provavelmente pelo Cambodia e Vietnã, mas sem muitos planos desta vez. O blog ainda está na Nigéria.
Em um sábado de noite fomos tomar uma cervejinha num bar em frente da faculdade. Tínhamos visitas – um pessoal da organização que trabalha em outras regiões, era dia de celebrar e relaxar. A ideia era ir até uma rua com vários bares que fica meio longe, mas éramos muitos, não tinha carro pra levar a gente e por isso resolvemos ir até um outro lugar que fica dois quarteirões de casa.
Tudo ia bem, muito papo e risadas. De repente os telefones começam a tocar e eu percebi que todos estavam meio apreensivos. Perguntei o que estava acontecendo: ‘há rumores de que teve uma bomba na região que estávamos pensando em ir, é melhor a gente voltar pra casa’. Ok, vamos embora...mas aí eu escuto um ‘BUM’.
Sim, foi uma bomba que explodiu alguns quilômetros de onde estávamos. E teve mais outra. Os militares não queriam deixar a gente ir embora, mas quando perceberam que estávamos pertinho de casa, acharam um carro e nos levaram em segurança.
Chegamos em casa e não se fala mais nisso, tá tudo certo, ninguém sabia o que estava acontecendo até o dia amanhecer mais uma vez. Foram três bombas, todas em lugares de grande concentração de pessoas, sendo uma exatamente no local onde pensamos em ir primeiro. Parece que um morto e alguns feridos. As bombas não funcionaram direito e o estrago foi relativamente pequeno. No dia seguinte me convidaram para ir até o hospital visitar as vítimas, mas recusei. Não me senti preparada para ver o que ouvi.
A última bomba tinha sido em setembro, sem mortos nem feridos. No natal passado não foi brincadeira. Com um grande feriado religioso chegando, todos esperam o pior mais uma vez.
Ninguém se espantou, pelo jeito foi só mais um dia em Jos. Não foi só mais um dia pra mim.O jeito é partir. Vou embora com um misto de sentimentos: saudosa, aliviada, ainda digerindo.
Olho por olho
A região em que estava se chama Jos. Não tinha comentado até agora o nome da minha cidade porque não queria preocupar ainda mais meus leitores número 1: mamãe e papai. Eles provavelmente pesquisariam sobre o lugar e teriam um infarte fulminante. Achei melhor dizer só depois de partir.
A capital do estado de Plateau, que um dia foi conhecida pela paz e pelo turismo, vive em conflito há mais de dez anos. São cristãos contra muçulmanos, tem fundo político, tem herança tribal. Milhares tiveram suas casas queimadas, familiares mortos e a cidade foi dividida. Agora tem cada um para o seu lado. Um não vai na área do outro e ainda tem muita coisa acontecendo.
Tem check point a cada quinhentos metros com militares armados com fuzil e tanque de guerra. Eles dizem que é só uma crise e que com muita oração a paz vai reinar (cada um com seu Deus).
O que parece óbvio, não é. Um lado não percebe que o outro também sofre e que não tem mocinho, nem bandido nesta história. Os comerciantes do mercado não vendem como vendiam, ninguém mais sai na rua depois das seis, não visitam mais seus amigos que tem casas do outro lado, não fazem mais festa depois que o sol se põe.
Claro que quando cheguei e vi os militares e suas armas de um metro e meio me assustei. As casas abandonadas e queimadas também amedrontam. Mas a verdade é que quem sofre só são os envolvidos. Os poucos ricos da cidade seguem sua rotina. Eu mesma me senti bem segura por lá e caminhava pelos dois lados – basicamente porque sou branca e assim sendo sou respeitada sem questionamento
Em casa, moravam três garotos da organização porque suas casas foram queimadas, a vizinha viu três pessoas da sua família serem mortas queimadas e não pode fazer nada. E todos contam suas histórias trágicas. Não podem mais visitar os amigos que vive do outro lado, uns não têm mais escola.
É uma nova Ruanda, a mesma velha história com milhares de novas vítimas. Mas enquanto fica só entre eles, você não vai ouvir falar disso muito na mídia.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Lá no orfanato
Enquanto a organização ia devagar quase parando por causa do fim de ano chegando, comecei a ir em um orfanato próximo. Todos os dias pela manhã para dar aula e brincar com as 22 crianças de lá.
Elas vieram de vilarejos remotos, perderam seus pais ou foram perdidas. Algumas pela AIDS, muitas pelo conflito e outras pela miséria. Elas chegaram em março, assustadas e mal nutridas. Mas a mantenedora de lá é mais do que porreta! Ela também foi orfã e sabe o que isso significa. Tem também os voluntários que não deixam a peteca cair.
Nove meses depois, elas estão saudáveis, felizes e falantes. Já falam inglês e algumas já estão escrevendo e lendo. Nos divertimos muito e aprendemos bastante juntas nestas últimas semanas. Porque há de ter esperança!
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Tá dominado, tá tudo dominado
A Nigéria foi colônia inglesa e a língua oficial é o inglês. Mas isto é só oficial. Uma coisa é o papel, outra coisa é a realidade. Na rua tem dialetos e dialetos, inglês quebrado, e pigeon English. Mas se você quiser impressionar é só dar uma de lord. Parece que qualquer coisa dita por aqui com um sotaque britânico soa melhor, mais bonito, mais correto....e mais forçado e artificial. Quando alguém quer parecer importante fala inglês e carrega no sotaque britânico misturado com o jeito de falar daqui e fica aquela mistureba louca. Tô até que acostumada, mas em geral tenho que me esforçar para ser entendida também.
E aí tem também os missionários cristãos e também os muçulmanos que vieram. Tudo gira em torno da religião. Só mesmo Deus para dar esperança. Então, quando questionados sobre a resolução de qualquer problema a resposta é sempre a mesma: ‘o jeito é rezar’. Ou senão, o jeito é perguntar para os brancos que sabem mais, são mais inteligentes. Este povo foi forçado a acreditar de que eles podem menos, que seu modo de vida é errado e a única saída é copiar o modelo promissor europeu. Para quase tudo, eles perguntam ‘o que você acha?’ Esperando a resposta para seus problemas sem pestanejar.
Bom, a a colonização europeia é a causa do problema e não a solução. Mas nada mais forte do que o poder simbólico. Quando se domina a mente, o estrago tá feito.
Muitas cabeças, uma ideia
Em uma reunião com líderes de diversas comunidades da região (Plateau State), eis que eles começam a enumerar os problemas que os afligem. A ideia é discutir e juntos pensar em alternativas. Quase todos reportam os mesmos problemas:
- Dificuldade de encontrar água limpa durante a época da seca.
- Convencer a população a não utilizar o único riacho para defecar, passar o gado e afins.
- Briga por disputa de terra resolvida no “olho por olho”.
- Alto índice de adolescentes grávidas.
- Mortalidade infantil.
- AIDS, cólera e malária.
Todos os representantes são não governamentais e recebem ajuda humanitária da União Europeia.Por incrível que pareça, arrecadar o dinheiro não é o maior problema. Difícil mesmo é por o plano em ação com um governo corrupto, com o histórico de conflitos, com as diferenças (tribal, política, religiosa).
Apesar dos pesares, foi muito bom perceber a quantidade de pessoas da própria comunidade envolvida e com sede de mudança.
Infância Roubada
Aqui não tem tempo pra infância. Nasce-se com tarefas, com trabalho árduo, com poeira no rosto e vazio no estômago. Criança cuida decriança e criança faz mais e mais crianças.
O país mais populoso da África está abarrotado de pequenos sem futuro promissor. Aqueles que nunca vão nem saber o que é um cinema, um carrinho, um chocolate, um refri. Que não vão pular corda, nem comer bolo na casa da vó. Nada de roupa nova no natal, de rir à tôa de frente da TV, nada de chá na cama quando se está doente. Nada de livro, quase nada de escola, nada.
E não me venha com aquele discurso barato de que não se sente falta do que nunca viu e eles são felizes porque às vezes sorriem. Os que conseguem sobreviver não chegam ao 60. Estes mesmos sem infância são também sem velhice. Aqui mais do que em qualquer outro lugar o jeito é‘aproveitar porque a vida é curta’.
Até que a morte os separe
Só para não perder a fama de santa casamenteira fui num casamento aqui. Uma irmã de um dos meninos que moram comigo.
A noiva, animadíssima entra dançando, mas não só ela. Assim também entra o noivo, as damas de honra, a família do casal, os padrinhos e madrinhas. Eles dançam em direção ao altar e todos os outros convidados também mexem o esqueleto. Por aqui, não tem tempo ruim. Logo depois, joga-se dinheiro em vez de arroz nos noivos. Comida farta, muitos sorrisos, vestido branco. Nada de bebida alcoólica porque qualquer que seja areligião, ela é levada a sério, a sério demais.
Em dia de festa, os problemas ficam para trás, deixa pra amanhã.
Pão e Circo
Este projeto que trabalho como voluntária aqui na Nigéria é o único não diretamente ligado a educação. Trabalho para uma ONG que tem projetos principalmente relacionados a prevenção e saúde. Viajamos de vila em vila, ora para explicar sobre a importância do uso da tela de mosquito por causa da malária, distribui-las e vierificar de casa em casa se e como estão sendo usadas; ora reunião com líderes comunitários para discutir sobre planos de ação e solução de problemas que vão de falta de água limpa, disputa de terra à planejamento familiar; ora para organizar um campeonato de futebol com jogadores soro-positivo entre comunidades.
Cada saída de campo tem sua mágica, as comunidades são mais pobres do que eu imaginava ser possível e visitar estas casas e conversar com a população é intenso. Primeiro porque em muitos destes locais, eu sou a única pessoa branca que eles já viram e eles me encaram como se eu tivesse vindo de Marte. Eles tem o que comer, mas é sempre a mesma coisa – carboidrato puro, moram em casas de argila e palha. Não tem banheiro, não tem água, não tem luz, quase não tem escola, não tem hospital, não tem, não tem, não tem...a lista dos nãos é infinita.
E os líderes comunitários, na sua maioria voluntários, trabalham sem parar. Os projetos sobrevivem de doação que vem do exterior e são mais que necessários num país em que não se espera nada do governo.
Fui até uma comunidade bem remota assistir a final do futebol. As pessoas precisam se divertir também e foi o maior alvoroço. Torcida, gritaria, discursos. Queriam porque queriam que eu fosse a juíza do jogo – afinal, sou brasileira. Tive que explicar que eu não entendia nada de nada, então fiquei de fotógrafa do evento.
Todos animados e felizes da vida com o evento social, mas como todo bom brasileiro sabe – ‘alegria de pobre dura pouco’.
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