domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os poliglotas

 Aqui em casa tem japonês dizendo “assim  você me mata”, brasileira dando ‘namastê’, alemão tomando chimarrão e russa comendo com chopsticks. Tem turco falando palavrão em chinês , azerbaijanês cantarolando em italiano e tcheco mandando o outro calar a boca em japonês. Em duas semanas já nos consideramos grandes camaradas. Daí quando disse a todos que era aniversário da minha sobrinha e pedi para eles me ajudarem a cantar parabéns para ela, todos concordaram na hora.
E para o aniversário da Ju, a ideia era cantar ‘Happy Birthday’ em conjunto e gravar para mandar para ela. Daí, quando vimos que cada um de nós era de um canto diferente do planeta decidimos cantar em nossas línguas. Pensei, ‘ah, o que der, deu’. Sem prestar atenção e nem imaginar quantos lugares distantes e distintos cada um de nós representava. Estamos sempre perdidos juntos aqui pela Índia e somos tão parecidos mesmo em nossas diferenças que nos passou despercebido a mistureba que somos.
E foi assim rapidinho, em menos de dois dias, que cantamos em 20 línguas. Teve italiano, francês e espanhol. E também teve tcheco, russo, húngaro, polonês e alemão. Azerbaijanês, persa, gujarat, hindi e até sânscrito. Japonês, chinês,árabe, turco e holandês. E para finalizar, inglês e o bom e velho português. 
Planeta Terra chamando, a casa é sua, entra logo.





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vai um Chai aí?



Como muitos bem sabem, por aqui se bebe chai. Esqueça o cafezinho e se entregue ao chá preto super doce com algumas especiarias e leite. Opa, mas eu não tomo leite. Ou melhor, não tomava.
 Não gosto e nem nunca gostei de leite não processado. Um queijo, um danone, uma manteiga sempre caíram bem, mas o leite mesmo nunca desceu. E no meu primeiro dia de trabalho, vem uma inspetora com um copão de chai e um grande sorriso para dar. Aí não teve jeito, balancei a cabeça para dizer sim e mandei para dentro.  Um leite gordo que só com nata boiando.
Mas devagar devagarinho o gosto começa a pegar. E agora todo dia às dez da manhã vem a inspetora com o meu ‘chaizinho’ e eu aceito feliz da vida. Em algumas ocasiões paro em qualquer vendinha na rua pra comprar meu chai por 5 rúpias (ou dez centavos de dólar).
Tim tim! E tentem em casa:

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Deu zebra, Professora Girafales


Eu e el Profesor Jirafales sempre tivemos muito em comum. Ele é super alto, chato, metódico e professor. Mas hoje senti na pele o que ele sente todos os dias dando aula para a turma do Chaves.
Não me entendam mal, as crianças são super espertas, inteligentes e sempre te surpeendem, todas elas. Mesmo que em contextos diferentes e com habilidades diversas. Mas é engraçado, então preciso compartilhar:
Enquanto ensinava a diferença de ‘there is’ e ‘there are’  mostrei uma foto para três alunos e pedi que eles descrevessem a foto. “There is a book on the table” e por aí vai. Uma atividade oral, só para relaxar. A foto era de um quarto cheio de coisas.
E começou assim:
“Zebra, zebra.” Gritou o Roshan e eu perguntei. “Roshan, onde você está vendo a zebra?”.
“ZEBRA ZEBRA”, berrou ele.
“Ok, Roshan, mas me diga alguma coisa que tem nesta foto e comece a frase com ‘there is’ ou ‘there are’.
E Roshan diz: ‘There is a zebra’.
“Parabéns. ‘There is’ está correto. Mas não tem nehuma zebra aí. Eu vou desenhar uma zebra em cima da cama, ok? Agora você fala a mesma frase mas inclua alguma coisa, pode ser a cor da zebra ou onde ela está. Por exemplo – there is a red book on the table. “ disse eu.
“Ok, There is a ONE zebra”, disse o Roshan.
“Rosha, A e ONE  são a mesma coisa. Ou é ‘there is a zebra’ ou ‘there is one zebra’.”
“Mas Didi (professora em hindi), você pediu para eu fazer uma frase mais longa e eu fiz.”
“Eu sei, Roshan, mas esta frase não está correta, você pode me dizer a cor da zebra, falar onde ela está, ou sobre alguma outra coisa que você vê neste desenho”.
E ele sem pestanejar me solta:
“Ok. There is there are a one zebra. Is it good now?”
Tá, very good. Tá bom para a didi se acalmar, inspirar e expirar, inspirar e expirar e começar tudo de novo.
E neste mesmo dia, dando aula para um outro grupo, eis que eu pergunto se alguém sabia o que era summarize (resumir) e o Rupesh solta a pérola: "Claro, 'so simple', summarize é a mesma coisa que bem quente." (uma mistureba de summer e muita imaginação). E bota imaginação nisso. 
"Vocês me deixam looouca!" 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Todo dia ela faz tudo sempre igual


Minha mais nova rotina indiana começa com o rickshaw até a escola. Trabalho de segunda à sexta, das 9:00 às 16:00, com aulas de leitura, escrita e matemática para os pequenos. Têm os que ainda não reconhecem todas as letras e números e os que já conseguem ler um pouquinho.
Com os meus queridos alunos “com dificuldade” passo o dia. Saio da escola imunda, cansada e feliz da vida. As crianças são cheias de energia, de energia positiva. Claro que dá um certo desespero de ensinar criança de oito anos que ainda não reconhece letra. Mas assim vai, um dia de cada vez.
Nos finais de semana, tem o sossego ou a correria.  Tem ônibus noturno e novos pontos turísticos. O primeiro final de semana foi nas cavernas com seus templos milenares de Ellora e Ajanta e o segundo vai ser  a insanidade da cidade de Mumbai mesmo. Até a próxima!
Figurinhas - Sudeep e Vishal, meus alunos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O projeto daqui



A foto mostra um pouco da minha turminha e com o vídeo, eu te apresento a ONG sensacional que está por trás disto tudo e onde eu trabalho como professora voluntária.




terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Lá na Escola

Depois de longas férias e muito mochilar cheguei na Índia. O projeto começou começando. Segundona veio e lá fui para a minha mais nova escola. Ela fica em uma favela aqui em Pune. Fico com a turminha da segunda série.
 A escola é grande e cheia de pequeninhos. O prédio é público, mas todos os professores e todos os gastos são mantidos por NGOs. Muitos professores vêm do “Teaching for India”.
As crianças são agitadas e agressivas, visivelmente mal cuidadas. Elas são o reflexo do que elas têm em casa. Grande parte das famílias tem histórico de alcoolismo, ficha criminal, simples e pura pobreza e por aí vai.
 Na escola não tem mesa, nem cadeira, nem eletricidade. Cada lugar é demarcado com um quadrado pintado no chão e a luz é a solar mesmo.
 Hoje é meu segundo dia e eu já estou só ó pó. Acho que foi tempo demais de férias e como você bem sabe é muito fácil se acostumar com a vida fácil, agora voltar para a realidade nua e crua é outra história.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Índia


Na Índia, tudo é demais. A sujeira é demais, tem pessoas demais, trânsito insano, uma confusão sem tamanho. Ainda estou como uma barata tonta por aqui.
E se eu queria olhar arregalado e me sentir desconfortável como eu disse estes dias, o pedido virou realidade. Mas não só eu encaro as pessoas e o mundo a minha volta, eles me olham também e balançam a cabeça. Estou treinando nas ruas e com todos o famoso gesto. É só balançar a cabeça que os outros fazem o mesmo pra você com um sorriso. É o maior barato! E claro, a comida é cheia de sabor.
Segunda vou na organização descobrir exatamente o que vou fazer, em que escola vou trabalhar e tudo mais.
Vamos que vamos!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Seguindo Dr. Seuss


Em um passado não muito distante, lá estava ela arrancando os cabelos pensando se deveria ou não largar o certo pelo duvidoso.  Certinha que só, o frio na barriga veio e ficou. Mas aí ela respirou fundo, chorou um pouquinho, tremeu de montão e foi.
Já são mais de seis meses e mais de meio caminho andado. Sem emprego remunerado, sem casa, mas com lenço e com documento. Com mais pessoas, mais aprendizados, mais perguntas, mais lugares,  mais, mais, mais. O que ela tinha ela ainda guarda com ela e tudo mais que ela ganhou foi somado e ainda tem muito espaço.
Tá no óbvio, tá no mais imbecil livro de auto ajuda. É piegas e é verdadeiro:
As coisas parecem muito mais difíceis do que elas realmente são e superar seus medos e ir atrás do seu sonho vale sempre a pena.
Sim, ela vai voltar com uma mão na frente e outra atrás, sem emprego até segunda ordem e na casa do papai e da mamãe. Ainda bem que ela não tem grandes ambições. Ela só quer viajar, aprender, ensinar. Aprender, ensinar, viajar. Além de todas as outras coisas boas que acontecem neste meio tempo e que a vida tem para dar.